segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A intensidade da vida

A complicada arte de ver (Rubem Alves)


Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".

Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...

O que marca realmente

"As pessoas se esquecerão do que você disse, do que você fez, mas jamais esquecerão do que você as fez sentir".

A idade de ser feliz

O mundo...

... está nas mãos daqueles que têm coragem de sonhar e correr o risco de viver seus sonhos!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Boa noite!

"Cada um só vê do universo aquilo que a sua sensibilidade ou a maneira de ser lhe permite" - Agostinho Silva.

Até quando?

"Não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta..."

(Gabriel, o pensador)

O meu caminho

Hoje terminei o dia com a sensação de que valeu a pena ter escolhido um novo caminho profissional!
É uma sensação de ter encontrado um caminho que, apesar das dificuldades, não me parece tão novo... um caminho de retorno a mim mesma.
Isso é bom!

O vento...


... é sempre o mesmo, mas sua resposta é diferente em cada folha. Somente a árvore seca fica imóvel entre borboletas e pássaros.

Cecilia Meireles

Descobrir...


... consiste em olhar para o que todo mundo está vendo e pensar uma coisa diferente.

Roger Von Oech

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A intenção que está por trás de um gesto

Ser educado para ser bem sucedido.
Atender bem pra ganhar gorjeta.
Retribuir algo apenas porque a outra pessoa lhe pediu.
Podemos dizer que estes gestos são, realmente, verdadeiros?...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Dia desses...

... eu estava sofrendo por uma despedida, felizmente temporária, mas não deixava de ser triste naquele momento.
Ao avistar, da janela do ônibus, pessoas se despedindo umas das outras, uma cena me tocou profundamente. Uma garotinha, de 4 anos mais ou menos, ao constatar a realidade de que seu pai entrava no ônibus, agarrou as pernas da mãe e chorou muito. Obviamente eu, do meu lugar, engolia duro e não continha as lágrimas. Senti a dor dela, pois doía muito em mim naquele momento. Mas mais do que isso, foi difícil ver uma criança sofrendo assim pela despedida. Provavelmente (e felizmente!) ela vai revê-lo, a família vai se reencontrar e tudo ficará bem. Mas a dor de uma despedida - coisa que todos nós sentimos, desde pequenos (e alguns bem pequenos) - é dor doída que dá dó...



Nicholas Sparks diz:
"A razão por que a despedida nos dói tanto é que nossas almas estão ligadas.Talvez sempre tenham sido e sempre serão.Talvez nós tenhamos vivido mil vidas antes desta e em cada uma delas nós nos encontramos.E talvez a cada vez tenhamos sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos.Isso significa que este adeus é ao mesmo tempo um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio do que virá".

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Fora do ar nunca mais!!!


Oi, amigos!

O blog estava fora do ar, aparecendo uma mensagem de que havia sido removido. Não sei o que houve, mas já está funcionando normalmente!

Continuamos firme nas postagens!

Grande abraço!

Carla

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Mãos dadas no cinema (mais uma de Martha)


No dia dos namorados os restaurantes lotam, os vinhos são solicitados e as velas em cima da mesa são acendidas, há todo um clima propício para olhos nos olhos e confirmações verbais de amor. Clichê para quem vê de fora. Estando dentro, aceita-se as regras do jogo, é uma das formas recorrentes de comemoração. Mas, tivesse eu que escolher o símbolo máximo do namoro, não me restringiria aos prazeres da mesa nem mesmo aos da cama, incluindo entre os da cama colocar sobre a colcha um gigantesco bicho de pelúcia, um dos presentes preferidos para celebrar a data. Namoro que é namoro está representado por algo muito mais simples, sutil, barato e íntimo: os dedos entrelaçados no escuro do cinema, De mãos dadas se constrói uma relação.

Do que sentem falta os amantes clandestinos? Luxúria eles têm de sobra. O que lhes falta é esta forma brejeira de intimidade: dar-se as mãos. Na rua é arriscado, há olhos por todos os lados, já no cinema é possível providenciar um encontro às escuras e ali realizar a mais tórrida aproximação de corpos, um ato realmente subversivo para adúlteros: unir as mãos como dois namorados.

Se, ao contrário, o casal tem um namoro oficializado, sem razão para segredo, ainda assim o segredo se manterá entre eles pelo simples fato de que as mãos dadas dentro do cinema não são uma representação pública de amor, e sim um carinho privado. Ninguém está testemunhando, ninguém está reparando, a platéia está toda de olho na tela, e o casal também, porém seguros um no outro através de um entrelaçamento que, à luz do dia, seria corriqueiro, um simples hábito sem maior significância, mas que num espaço compartilhado com estranhos, no escuro, torna-se uma forma particular e irresistível de cumplicidade.

Esse gesto mundano e trivial carrega um significado que muitas vezes nem mesmo um beijo - um beijo! - possui. Pergunte a uma viúva do que ela mais sente falta do falecido, e é bem capaz de ela lembrar só das incomodações que o infeliz causava, mas as mãos agarradas dentro do cinema hão de despertar sua saudade. Pergunte a mesma coisa a alguém que está vivendo uma dor-de-cotovelo daquelas. Mesmo sofrendo, é provável que não se comova com a lembrança das brigas nem dos "eu te amo", mas ter que assistir a uma comédia romântica de braços cruzados há de ferí-la de morte. E os casados há vinte, há trinta, há cinquenta anos? Podem atualmente rugir um para o outro na sala de jantar, mas dentro do cinema ainda tratam-se como se tivessem se conhecido ontem e não perdem o hábito instaurado no primeiro filme de suas vidas. se não o fazem mais, é porque o casamento acabou e não foram avisados. O último resquício de amor ainda se confirma com as mãos dadas dentro do cinema. Há salvação para os que as mantêm unidas ao menos ali.

Amanhã (isto é, um dia após o dia em que esta crônica fo escrita, no dia 11 de junho de 2006) será dia de restaurantes lotados. Aleluia, abrirão todos nesta segunda-feira, como costumam fazer as cidades civilizadas. Muitas rolhas de vinho tinto serão espocadas, umas tantas outras de champagne. Quem tem fondue no cardápio servirá fondue, e mesmo as pizzas serão degustadas como um prato especial. Pudera, é mesmo um dia especial.

Mas será dentro dos cinemas que a declaração mais terna e espontânea se dará.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Erros intoleráveis

Martha Medeiros cita Chico Bosco:

"É a conquista de uma liberdade - isto é, a conquista do erro - que possibilita o sorriso, a soltura, o improviso"
(in Doidas e Santas).

Fico pensando como isso é verdadeiro! Quantas vezes ficamos mais preocupados com aquele batom no dente (que só percebemos depois de termos rodado a festa inteira) do que com o nosso sorriso verdadeiro? Quantas vezes ficamos rígidas para não perder a pose? Quantas vezes voltamos para casa perdidas de nós mesmas porque exageramos na dose de simpatia, na ânsia de agradar os outros?
Cadê prazer? Cadê alegria?
Protocolos cansam!
Acho que é por isso que nunca me imaginei trabalhando em banco.
Aquela postura plastificada me deixa doidaaaaaaa!
Cabelos impecáveis, roupas lindas, sapatos elegantes, certamente. Mas manter aquela pose toda dá trabalho e muito pouca diversão, ao menos para mim.
Não tô dizendo que a gente deve andar maltrapilho, mas é preciso um pouco de soltura, conforto e alegria pelo amor de Deus!
Isso é só uma parte de um problema muito maior que nos atormenta: a impossibilidade do erro.
Vejo empresas que punem com demissão erros que deveriam ser orientados, esclarecidos.
A gente não quer errar, mas o erro é parte do processo da vida, do aprendizado e do desenvolvimento. Essa frase ainda é uma ilusão: é repetida porque soa politicamente correta, mas é pouco tolerada por todo mundo (começando por nós mesmos).
É por isso que precisamos - como receita de tratamento mesmo - conviver com a simplicidade, estar perto de crianças, animais e gente simples, verdadeira na expressão do que sente e livre das máscaras socialmente corretas que custam muito caro a todas (os) nós...

O melhor da saudade é, certamente...

... o reencontro!

Jason Mraz -I'm Yours (live)



Um som que me transporta para momentos tão bons...!

Deixe a brisa te tocar e nela você vai me sentir junto a ti...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Frase libertadora

"A consciência de que as mudanças são parte indissociável da existência humana traz, como consequência, a convicção de que os obstáculos e dificuldades, por piores que se apresentem, inevitavelmente passarão"
(Elisabeth Cavalcante).

A filosofia do "apesar de"

Apesar das crises, dos obstáculos, das frustrações, apesar de tanta coisa difícil que todos nós enfrentamos hoje em dia, é possível sermos felizes.
Junte meia dúzia de pessoas de mais de 30 anos e permita que fiquem conversando por algumas horas. Dificilmente estarão animadas e totalmente despreocupadas o tempo todo (a menos que todo mundo esteja bêbado).
Um está super bem profissionalmente, mas sozinho... O outro casou-se há pouco, mas... não consegue tempo para o trabalho.
Os filhos chegam e... lá se vai o sono.
Se não vêm filhos... hum, que vontade de tê-los!
O negócio é encarar os fatos da vida: não existe perfeição, e isso é muito bom! O "apesar de", longe de ser desanimador, é libertador!
Pois aquela promoção não estava nos planos e... chegou em ótima hora!
A aprovação no exame trouxe novo ânimo e contentamento.
A mudança de cidade proporcionou novos ares, costumes e estilos de vida.
Os filhos virão quando estivermos maduros. E é sempre maravilhoso perceber que tudo vem no tempo de Deus.

Seu canto de paz...

É importante conservar um lugar onde possamos recarregar as energias do dia-a-dia; um "canto" de harmonia em que possamos ouvir o nosso coração, onde o silêncio interno nos faz sentir vivos, fortalece nossa fé, reabastece a nossa vida.
Um canto sagrado, onde sabemos que podemos nos encontrar com Deus e conosco mesmos.

Fevereiro chegou!

Por melhor que seja a sensação de estar de férias, é sempre bom retornar à atividade.
Descanso e trabalho fazem parte da mesma moeda: quando são demais, atrapalham.
A dose certa é sempre a melhor alternativa!
Vamos nessa?

Imagens que curam...

Há lugares que despertam o melhor em nós...

Boa viagem!



terça-feira, 1 de fevereiro de 2011