quarta-feira, 28 de julho de 2010

Tempos Modernos – O fim do emprego de Carlitos


Se Chaplin fizesse um filme retratando a realidade do emprego nas grandes corporações, certamente Carlitos não estaria girando nos eixos metálicos das indústrias. Provavelmente seria um homem engravatado sentado em uma baia com um computador à sua frente e uma pilha de papéis ao seu lado.

Com aquele jeito desastrado que só Chaplin conseguia interpretar, o novo Carlitos correria de um lado para o outro com um celular na mão, gritando ao telefone e dizendo para as pessoas que não tinha mais tempo. O tempo que antes era ditado pela velocidade da máquina, agora é comandado pela agilidade das informações e dos acontecimentos. Carlitos seria o exemplo do executivo trabalhador que fez de tudo pela empresa e em um belo dia é demitido e perde o emprego.

Neste cenário melodramático, o desempregado Carlitos acaba ficando sem perspectivas e o dinheiro vai acabando, as opções vão se esgotando e as organizações o rejeitam devido à sua idade. Ele não serve mais, está velho e desatualizado. No final do suposto filme, Carlitos viraria um vagabundo, sentado na calçada pedindo esmola ao lado de seu adorável cão, seu único e verdadeiro amigo nesta sociedade pós-moderna. Agora, por ironia do destino, ambos teriam todo tempo do mundo para pensar na vida, nas pessoas e no fim do emprego.

(...)

Em seu livro, "O Horror Econômico", Viviane Forrester descreve bem a Via Crucis do desempregado. Diz ela: "o desemprego invade hoje todos os níveis de todas as classes sociais, acarretando miséria, insegurança, sentimento de vergonha, em razão essencialmente dos descaminhos de uma sociedade que o considera uma exceção à regra geral estabelecida para sempre. Uma sociedade que pretende seguir seu caminho por uma via que não existe mais, em vez de procurar outras. (...) Resulta daí a marginalização impiedosa e passiva do número imenso, e constantemente ampliado, de 'solicitantes de emprego' que, ironia, pelo próprio fato de se terem tornado tais, atingiram uma norma contemporânea; norma que não é admitida como tal nem mesmo pelos excluídos do trabalho, a tal ponto que estes são os primeiros a se considerar incompatíveis com uma sociedade da qual eles são os produtos mais naturais. São levados a se considerar indignos dela e, sobretudo, responsáveis pela sua própria situação, que julgam degradante e até censurável. Eles se acusam daquilo de que são vítimas".

(...)

Glauco Cavalcanti

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