
Após adotarmos a expressão "balzaquiana", uma forma um tanto pejorativa para caracterizar as mulheres que beiravam a casa dos trinta anos de idade, muita água já passou por baixo da ponte.
Muitas evoluções têm transformado a vida das grandes e pequenas cidades, do mercado de trabalho, da produção, da política, da informação, da medicina, do ensino, das relações sociais, da família e da mulher.
Não podemos mais viver voltadas apenas para as questões do casamento e situações circundantes, como na época descrita por Balzac, mas, de toda a sorte, são temas que podem preencher sonhos, expectativas e vidas.
Temos de enfrentar a competição do mercado de trabalho, podemos sair às ruas e abrir nossas vozes em defesa de nossos interesses, lutamos por espaço e, com muita dificuldade e sacrifícios pessoais, temos sido vitoriosas.
Hoje ocupamos postos em todas as instâncias: da estrutura do poder, da organização estatal, na esfera militar, nos bancos, na ciência, na esfera jurídica, nas religiões, nas artes, na literatura; também continuamos nas escolas, nos amores, na criação dos filhos e hoje podemos dizer: nos fazemos vivas. Nos fazemos visíveis, brilhamos nas canções, nas letras e na política, brilhamos nos meios de comunicação e ultrapassamos não só a idade dos trinta anos, como a conotação que se dava, então, às balzaquianas.
Somos mulheres feitas, mulheres que pensam, mulheres que lutam e mulheres que amam. Com a mesma intensidade com que defendemos um filho, bradamos uma bandeira. Com a mesma intensidade com que escrevemos um poema, ou um bilhete apaixonado, ouvimos o problema do nosso amigo. Com a mesma energia com que saímos todos os dias para o trabalho, queremos o final de semana mais fantástico junto à natureza, ouvindo uma cachoeira, olhando o verde ou curtindo a chuva.
(...)
As dores de amores indicadas por Balzac continuam aqui, as paixões, os sofrimentos e as dúvidas sobre nossas vidas, sobre o certo e o errado ainda nos corroem. Sofremos a culpa eterna na escolha do que pensamos ser o correto, quando ocasionalmente descobrimos que efetivamente não era a melhor escolha.
Carregamos o cansaço e a culpa da tripla jornada, e como nos questionamos! Sofremos por trabalhar fora e deixar nossos filhos e, quando ficamos com eles, por não estar no trabalho! Sofremos quando casadas e sofremos quando solteiras, mas também somos felizes, tanto casadas como quando estamos, ainda, por encontrar o amor (e sempre pensamos que será o ideal!).
Porém, hoje enfrentamos essas questões de forma diferente da Senhora D´Aglemont. Nós choramos, sim, mas no dia seguinte, a labuta nos espera, e lá vamos nós, nos distrair com o trabalho, pois o mundo não espera que nossa tristeza se dissipe para só então continuar sua corrida frenética.
(...)
Temos mais amigas, ampliamos nossa capacidade de sorrir, nos permitimos chorar, falar o que pensamos. E amamos os homens, a natureza e a vida. Compreendemos a importância do silêncio e da meditação e procuramos criar o tempo para aproveitar tudo isso!
Maria Margareth Garcia Vieira