terça-feira, 19 de maio de 2009

Vcoê cnogesue ler itso?


O e-mail reaparece ocasionalmente: "pesquisadores de sei lá onde mostram que a leitura é feita por grupos de letras, e não letras individualmente". Como é possível reconhecer palavras quando sua sequência de letras é embaralhada? Aliás, como é possível sequer ler, simplesmente?

A leitura envolve um aprendizado coordenado entre várias partes do cérebro: as que processam imagens, as que processam sons, e outras que registram significados. Durante a alfabetização, aprendemos a associar rabiscos arbitrários com sons, depois sequências de rabiscos com significados (idéias) e movimentos da boca e língua, até que, aos poucos, o reconhecimento de grupos de rabiscos - as letras - se torna não só automático, como inevitável.

Esse tipo de reconhecimento visual aprendido, ou seja, resultante de experiência, depende de um processamento cada vez mais complexo ao longo de uma série de regiões do córtex visual: das áreas primárias, que reconhecem apenas as características mais elementares das letras (um traço para cima, uma volta para baixo), a regiões cujos neurônios reconhecem letras específicas, a outras que reconhecem grupos de letras. Essa via leva, por fim, a uma região na borda enter os lobos occipital e temporal cujos neurônios parecem reconhecer palavras inteiras, independentemente do tamanho ou fonte das letras.

Um estudo publicado na revista Neuron em abril de 2009 sugere que essa "área visual de palavras" no córtex possui neurônios seletivos para palavras reais específicas, que são pouco ativados por não-palavras (isto é, sequências foneticamente válidas de letras, mas sem significado, que não ocorrem no idioma). Muito específicos, esses neurônios não seriam sensíveis a outras palavras que diferem da sua preferencial por uma letra que seja: por exemplo, o neurônio que responde a "faca" não é o mesmo que responde a "vaca".

Cmoo epxilacr a lieruta de parvalas com lretas ebmrahalaads, etãno? Essa leitura, embora possível, não é automática, e leva mas tempo, como você pode constatar. Tampouco acontece para palavras isoladas; precisamos do contexto para ajudar a inferir a identidade das palavras, e haver regras fixas, como a primeira e a última letras ficarem em seus lugares, é fundamental. Mal talvez essa leitura também envolva, embora por caminhos mais tortuosos, a ativação dos mesmos neurônios da "área visual de palavras" - que agora levam mais tempo para reconhecer que aquele conjunto de letras é uma variação de uma palavra, mas ainda é ela. Outras variações, a leitura no espelho ou de cabeça para baixo, também envolveriam esse tipo de reconhecimento mais custoso, mas ainda possível.

Os autores, da Universidade Georgetown, nos EUA, propõem que a seletividade dos neurônios dessa área cortical para palavras específicas seria o resultado da experiência com palavras, conforme o cérebro aprende a associar grupos de letras com sons e significados específicos. Desse modo, o que hoje é uma não-palavra pode se tornar uma palavra amanhã - e assim o vocabulário do cérebro pode continuar crescendo, aprendendo palavras novas no seu idioma, e em outros também. (SHH)



Fonte: Glezer LS, Jiang X, Riesenhuber M (2009). Evidence for highly selective neuronal tuning to whole words in the "visual word form area". Neuron 62, 199-204.

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