domingo, 24 de maio de 2009

Nós, as balzacas...


Após adotarmos a expressão "balzaquiana", uma forma um tanto pejorativa para caracterizar as mulheres que beiravam a casa dos trinta anos de idade, muita água já passou por baixo da ponte.

Muitas evoluções têm transformado a vida das grandes e pequenas cidades, do mercado de trabalho, da produção, da política, da informação, da medicina, do ensino, das relações sociais, da família e da mulher.

Não podemos mais viver voltadas apenas para as questões do casamento e situações circundantes, como na época descrita por Balzac, mas, de toda a sorte, são temas que podem preencher sonhos, expectativas e vidas.

Temos de enfrentar a competição do mercado de trabalho, podemos sair às ruas e abrir nossas vozes em defesa de nossos interesses, lutamos por espaço e, com muita dificuldade e sacrifícios pessoais, temos sido vitoriosas.

Hoje ocupamos postos em todas as instâncias: da estrutura do poder, da organização estatal, na esfera militar, nos bancos, na ciência, na esfera jurídica, nas religiões, nas artes, na literatura; também continuamos nas escolas, nos amores, na criação dos filhos e hoje podemos dizer: nos fazemos vivas. Nos fazemos visíveis, brilhamos nas canções, nas letras e na política, brilhamos nos meios de comunicação e ultrapassamos não só a idade dos trinta anos, como a conotação que se dava, então, às balzaquianas.

Somos mulheres feitas, mulheres que pensam, mulheres que lutam e mulheres que amam. Com a mesma intensidade com que defendemos um filho, bradamos uma bandeira. Com a mesma intensidade com que escrevemos um poema, ou um bilhete apaixonado, ouvimos o problema do nosso amigo. Com a mesma energia com que saímos todos os dias para o trabalho, queremos o final de semana mais fantástico junto à natureza, ouvindo uma cachoeira, olhando o verde ou curtindo a chuva.

(...)

As dores de amores indicadas por Balzac continuam aqui, as paixões, os sofrimentos e as dúvidas sobre nossas vidas, sobre o certo e o errado ainda nos corroem. Sofremos a culpa eterna na escolha do que pensamos ser o correto, quando ocasionalmente descobrimos que efetivamente não era a melhor escolha.

Carregamos o cansaço e a culpa da tripla jornada, e como nos questionamos! Sofremos por trabalhar fora e deixar nossos filhos e, quando ficamos com eles, por não estar no trabalho! Sofremos quando casadas e sofremos quando solteiras, mas também somos felizes, tanto casadas como quando estamos, ainda, por encontrar o amor (e sempre pensamos que será o ideal!).

Porém, hoje enfrentamos essas questões de forma diferente da Senhora D´Aglemont. Nós choramos, sim, mas no dia seguinte, a labuta nos espera, e lá vamos nós, nos distrair com o trabalho, pois o mundo não espera que nossa tristeza se dissipe para só então continuar sua corrida frenética.

(...)
Temos mais amigas, ampliamos nossa capacidade de sorrir, nos permitimos chorar, falar o que pensamos. E amamos os homens, a natureza e a vida. Compreendemos a importância do silêncio e da meditação e procuramos criar o tempo para aproveitar tudo isso!

Maria Margareth Garcia Vieira

3 comentários:

Silvia Elena Augusto disse...

Cá, analisando as descrições de Balzac, acredito que podemos fazer um paralelo com a música: Mulheres de Atenas de de Chico Buarque e Augusto Boal.
Não vou escrever a letra toda, mas só um pedacinho para lembrarmos.

"Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pr'ós seu maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam.
Se banham com leite, se arrumam suas melenas..."

Existe um estudo (Companhia das letras, 1989) sobre a letra desta música que explica:
É comum, ainda nos dias de hoje, leitores menos avisados considerarem essa música como uma apologia à submissão e à subserviência feminina ao machismo brasileiro, a exemplo das
mulheres da Grécia antiga. Aliás, isso aconteceu com muitas mulheres que se diziam feministas, algumas leitoras vacilantes e obtusas, que criticaram os autores porque julgaram a música “machista” – segundo elas, a letra da música sugeria que as mulheres de hoje tivessem o mesmo comportamento das mulheres da antiga Atenas.
Não conseguiram perceber a inteligente ironia
do texto... Onde se lê “Mirem-se...” sugere-se que se faça o contrário; dessa forma, o texto é um hino contra a submissão das mulheres que se sujeitam às regras ditadas pelas sociedades
patriarcais. O próprio Chico Buarque, em uma entrevista à televisão Cultura, ao ser indagado sobre o pensamento das feministas da época, disse: “Elas não entenderam muito bem. Eu disse:
mirem-se no exemplo daquelas mulheres que vocês vão ver o que vai dar. A coisa é exatamente ao contrário”.

Com certeza, aproveitamos tudo isso e muito mais!!!

Super bjo

Gustavo disse...

As mulheres de trinta são sensacionais!
São jovens, determinadas, aventureiras, experientes, devotadas a uma vida de realizações nas suas mais variadas concepções, sabem viver, são companheiras e principalmente tem a especial característica de se recuperarem dos "tombos" da vida com aparente facilidade, garantindo força suficiente para levantar seus companheiros. Uau! Acredito que essa última característica é muito presente nas mulheres de 30 anos.
Elas formam uma mistura tão explosiva que eu diria que elas são mulheres MOLOTOV!!!
Beijos a todas!

Carla disse...

Amei os comentários de vocês! Da Silvinha, por identificação, do Gustavo, por me sentir lisonjeada, afinal, que idade maravilhosa é esta, hein! Bjos e obrigada por me darem força, lendo e comentando por aqui!!!